Ética, Pratique

Teste sua ética yogue

Sempre é possível enxergar em nós mesmos a forma em que percebemos a realidade, e a maneira em que nos relacionamos eticamente com o mundo e com nós mesmos. Nosso olhar ético é um espelho do que somos por dentro.

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Sempre é possível enxergar em nós mesmos a forma em que percebemos a realidade, e a maneira em que nos relacionamos eticamente com o mundo e com nós mesmos. Nosso olhar ético é um espelho do que somos por dentro. Da mesma forma, nossas ações estão igualmente mostrando o que acontece em nosso interior. A cada dia, novas oportunidades nos são dadas para aprendermos a nos superar: não as deixemos passar!

As questões deste teste foram divididas em três grupos:
1. Olhar e pensar:
2. Escutar e pensar:
3. Pensar e agir:

Esses grupos de questões tentam traçar o perfil da maneira em que percebemos o mundo através da visão e da audição, e da forma em que agimos, que está em função do que pensamos. Essa visão da nossa ética pode ser um bom termômetro se quisermos saber onde estamos em relação ao nosso crescimento pessoal no Yoga.

Ao elaborar este teste, utilizei situações reais, vividas por mim ou por pessoas que observo à minha volta. Por favor, não ache que estou querendo dar uma lição de moral, colocar uma carapuça em alguém ou coisa do gênero. Eu, por exemplo, estou muito distante de passar no teste do ahimsa no trânsito. É por isso que, basicamente, escrevo para lembrar. Escrevi isto somente para ter uma chance de observar-me melhor, e acho que talvez possa igualmente ajudar você.

Para tirar a ética do plano teórico e jogá-la na vida real, essas questões desenham algumas situações com as quais nos deparamos ou podemos vir a nos deparar no dia-a-dia. Embora testes sejam muitas vezes enganosos e, principalmente nas práticas do Yoga a subjetividade impere, podemos considerar isto um convite interessante para refletirmos sobre a ética do Yoga e seu valor nas nossas vidas.

Para fazer o teste, imprima esta página e responda às questões abaixo, outorgando valores de 0 a 3 para cada uma delas. No final, faça a contagem total de pontos e veja o resultado. Seja honesto consigo próprio.
Quando a resposta for um não absoluto, coloque 0.
Às vezes, raramente, vale 1.
Às vezes, quase sempre, vale 2.
Quando for um sim redondo, coloque 3.

Yamas, as cinco proscrições éticas:
I. Não violência (ahimsa).
1. Olhar e pensar/sentir: hora do rush, trânsito parado, calor sufocante. Você está atrasado para um compromisso importante. Você consegue manter a calma, sem praguejar mentalmente contra os demais usuários das ruas?
2. Escutar e pensar/sentir: você ouve um comentário maldoso e gratuito sobre um amigo seu. Você fala em defesa dele e do que acredita ser justo?
3. Pensar/sentir e agir: você é capaz de resistir ao impulso de falar mal dos demais?

II. Veracidade (satya).
1. Olhar e pensar/sentir: numa reunião com seus bons amigos (ou boas amigas), alguém compartilha uma emoção que está sentindo, como que convidando os demais a fazer o mesmo. Você consegue expor seus sentimentos reais perante seus amigos?
2. Escutar e pensar/sentir: você prometeu pela enésima vez que iria concluir aquele trabalho até o fim do mês. O prazo acaba e você ouve mais uma reclamação porque não cumpriu o prometido. Você pode colocar-se na posição de quem reclama e perceber que essa pessoa está certa?
3. Pensar/sentir e agir: talvez o mais importante na vida seja ser verdadeiro consigo próprio. Você vive em concordância com seus valores e crenças mais profundos?

III. Honestidade (asteya).
1. Olhar e pensar/sentir: você vê um erro que lhe beneficia em sua conta do supermercado. Você avisa para a pessoa do caixa que ela que errou e faz questão de pagar a quantia justa?
2. Escutar e pensar/sentir: alguém faz elogios a um trabalho, mas atribui erroneamente o mérito a você. Apresenta-se assim a oportunidade de angariar em seu benefício o mérito dessa outra pessoa. Você resiste a essa tentação e coloca os pingos nos ‘is’?
3. Pensar/sentir e agir: você se hospeda na casa de amigos por um mês e, como seu anfitrião parece ter mais dinheiro que você, você opta por ficar calado na hora de pagar as contas. Você percebe que está abusando da generosidade de seus amigos?

IV. Coerência afetiva e relacional (brahmacharya).
1. Olhar e pensar/sentir: você namora há um bom tempo a mesma pessoa mas encontra-se com alguém de quem gostava desde antes. Você consegue observar seu desejo de relacionar-se com esta segunda pessoa sem reagir a ele?
2. Escutar e pensar/sentir: o sexo não deveria ser unicamente uma experiência sensual. A atividade sexual deveria servir ao propósito maior de expandir a consciência. Você consegue aplicar este princípio à sua vida sexual?
3. Pensar/sentir e agir: você é coerente em pensamentos, palavras e ações em relação a seu parceiro (ou à sua parceira)?

V. Não possessividade (aparigraha).
1. Olhar e pensar/sentir: este é um clichê velho mas que se repete: você vê aquele carro, seu sonho de consumo, passando lentamente pela rua. Ao volante, um senhor careca e barrigudinho acompanhado por uma jovem loira. Você resiste à vontade de praguejar contra a boa fortuna desse senhor barrigudinho?
2. Escutar e pensar/sentir: você ouve no rádio que está prevista chuva para o fim de semana em que você tinha programado ir à praia. Você é capaz de, mesmo assim, desfrutar seu descanso?
3. Pensar/sentir e agir: você consegue evitar aquela sensação de que a fortuna e a prosperidade parecem sorrir mais para seus amigos que para si próprio?

Niyamas, as cinco prescrições éticas:
I. Purificação (shauchan).
1. Olhar e pensar/sentir: shauchan, a purificação ética, vai muito além da mera higiene corporal, incluindo igualmente pensamentos e sentimentos. Ser atencioso, decente e compassivo faz parte desse estado de pureza interior. Você consegue manter um olhar puro sobre o mundo, apesar de parecer que as coisas à sua volta estão ruindo ou se deixa arrastar pela maré negativa?
2. Escutar e pensar/sentir: você pode manter o estado de pureza mental ao escutar um comentário destrutivo sobre sua prática pessoal, do tipo ‘essa meditação que você faz não serve para nada’?
3. Pensar/sentir e agir: no restaurante a peso, você consegue controlar seu impulso de encher o prato com mais de três tipos de alimento?

II. Contentamento (santosha).
1. Olhar e pensar/sentir: olhando para sua vida, você encontra motivos verdadeiros e suficientes para ser feliz nas coisas que você já fez, ao invés de achar que sua felicidade depende inteiramente do que você ainda vai inventar amanhã?
2. Escutar e pensar/sentir: ouvindo uma pesquisa sobre a elite profissional da área em que você trabalha, você fica feliz com suas realizações pessoais, mesmo que elas não tenham lhe colocado no topo?
3. Pensar/sentir e agir: encontrar o contentamento em meio à sociedade de consumo em que vivemos é bastante difícil, considerando o bombardeio que seus sentidos recebem constantemente. Mesmo assim, você consegue viver por aquele preceito que diz que ‘menos é mais’?

III. Esforço sobre si mesmo (tapas).
1. Olhar e pensar/sentir: ter sob controle dos sentidos e dos órgãos da ação é importantíssimo para evoluirmos na prática. Após uma noite de sono inquieto, você abre os olhos e percebe que está na hora de sair da cama. Você é capaz de dominar seu impulso de dormir por mais uma hora e fazer sua prática antes de ir trabalhar?
2. Escutar e pensar/sentir: você ouve uma reclamação justificada sobre um trabalho que não fez corretamente. Você pode ouvir essa crítica sem perder a compostura?
3. Pensar/sentir e agir: manter constantemente o foco nos objetivos mais elevados nem sempre é tarefa fácil. Você consegue superar a lassidão e a procrastinação e dedicar seus esforços ao que realmente interessa no dia-a-dia?

IV. Estudo e compreensão de si próprio (svadhyaya).
1. Olhar e pensar/sentir: svadhyaya, o estudo de si mesmo, é um dos pilares sobre os quais se edifica o progresso espiritual. Você é capaz de perceber e apreciar o sentido profundo de sua existência nas pequenas coisas no cotidiano?
2. Escutar e pensar/sentir: a exploração da caminhada espiritual implica tanto o estudo dos textos sagrados como a observação consciente das nossas atitudes. Você consegue manter algum grau de autoconsciência nas situações mais difíceis e/ou é capaz de evocar os ensinamentos do Yoga quando essas situações se apresentam?
3. Pensar/sentir e agir: você dedica diariamente um momento ao estudo da filosofia do Yoga e/ou à observação de si mesmo?

V. Entrega a Isvara (Ishvara pranidhána).
1. Olhar e pensar/sentir: você lê no jornal que a idade mínima para aposentar-se acaba de ser aumentada em cinco anos. Sua aposentadoria iria sair daqui a três meses, mas agora fica sabendo que terá que trabalhar por mais cinco anos. Você consegue evitar pensar ‘não é justo! Essas coisas só acontecem comigo’?
2. Escutar e pensar/sentir: você volta para casa após uma longa viagem. Está aguardando dentro do avião, que já acumula um atraso de oito horas. A voz da comissária anuncia que o vôo irá partir apenas no dia seguinte. A frustração entre os passageiros é grande. Você consegue entender que aconteceu o melhor para si mesmo?
3. Pensar/sentir e agir: você consegue confiar no processo da existência, entregar-se a ela sem medos nem receios?

Vamos analisar o resultado.
1. Menos de 36 pontos.
Você ainda tem um longo caminho pela frente, mas não desanime! Lembre que o importante não é onde você está ou o que você fez até aqui. Importa sim é para onde você está indo e o que você vai fazer com sua vida no futuro!

2. Até 57 pontos.
Você precisa trabalhar com bastante afinco em seu interior, embora já tenha dado alguns passos na senda do Yoga. Continue, prestando sempre atenção à auto-superação. Boa caminhada!

3. Até 82 pontos.
Você parece estar bem encaminhado na prática da ética, embora precise ainda aparar algumas arestas. Bom sinal!

4. 83 pontos ou mais.
Você só pode ser um iluminado. Bom para você, bom para quem está perto de você. O mundo precisa de mais gente assim!

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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