Pratique, Yoga na Vida

Identidade e autojulgamento

Precisamos aprender a lidar de maneira equánime com o autojulgamento. Se pudermos fazer isso inteligentemente estaremos preparados para viver a vida. Noutras palavras, lidar com equanimidade com todos os problemas centrados na pessoa. Se pudermos lidar com isso tudo de maneira inteligente e tranquila, aceitando a ordem psicológica como ela é, seremos mais felizes e poderemos dizer que há uma direção significativa em nossas vidas.

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A orientação para “nos tornarmos” seres humanos, totalmente conscientes de nós mesmos enquanto pessoas, acontece por causa do autojulgamento. O autojulgamento é inevitável. Quando me torno consciente de mim mesmo, preciso me “vestir” com uma identidade.

Ser o que sou me dá essa identidade. Portanto, ser o que sou deriva de um julgamento, que pode estar certo ou errado, e que irá determinar a maneira em que vivo minha vida. A base deste julgamento é inevitável. Na construção da própria identidade existem características comuns a todos: o papel que o corpo representa, por exemplo, é fundamental e predomina nessa construção da ideia que nutrimos de nós mesmos.

Também as relações, o conhecimento, a força, a habilidade, a cultura, a religião, a ideia de nação: estas características constroém aquilo que somos. Isso é universal. Se alguém disser “sou indiano de Tamil Nadu”, a pessoa terá certo conhecimento e modos de comportamento, hábitos culinários, religião e outras características culturais. Essa é a base comum a todas as pessoas daquela região.

Depois vêm as características individuais associadas ao complexo corpomente, que determinam a autoidentidade, as ações e as características da vida no tempo-espaço. Esse é o indivíduo. Até mesmo no caso de gêmeos idênticos, as impressões digitais, o código genético, etc., serão diferentes.

Deve haver certas conclusões sobre os indivíduos, que são universais; por exemplo: “estou sujeito a nascimento e morte”, ou “tenho um período limitado de vida”. Durante esta vida, estou sujeito a doença, envelhecimento e morte. Estas são conclusões verdadeiras e inevitáveis, objetivas. Não são opiniões.

Estou sujeito ao medo, ao sentimento de insegurança, ansiedade, culpa, não aceitação de mim mesmo. Embora eu seja livre para realizar os meus desejos, nem sempre sou capaz de fazer isso. O mesmo vale para o conhecimento, a memória, a minha capacidade de fazer dinheiro, etc.

Portanto, me vejo buscando, querendo coisas: quero ser mais alto e uso sapatos de plataforma, o que torna difícil o caminhar. Quero ser diferente, modificar o que tenho. No entanto, macacos não tem esses problemas. Você não pode dizer para os macacos que você é melhor que eles, porque você evoluiu. Eles vão rir de você.

Então, você volta a ser macaco ou resolve este problema. A evolução não pode ser programada. Quando você recebe a liberdade de conhecer, desejar, etc., as faculdades para se conseguir isso são dadas para você ao mesmo tempo. Os macacos não têm esses problemas porque não se auto-julgam. Por isso não usam jeans, nem fazem fila na frente do consulado americano, como os engenheiros de computação indianos. Os macacos ficam felizes na Índia. Só os humanos são infelizes sendo o que são, o que inclui morar onde moram. Portanto, o problema do humano é de fato dele ser um humano!

Todos os organismos são dotados de instinto de sobrevivência. Isso implica a existência de energia que precisa vir de fora, na forma de alimento. Não vonseguimos produzir comida. Apenas nos alimentar. Assim começa a cadeia alimentar, que está baseada nos microorganismos e plantas. Os herbívoros buscam plantas e água. Os carnívoros precisam sobreviver e também vão às pradarias, porque a comida deles está lá.

Quando olhamos para os animais herbívoros, vemos que há algo diferente em relação a eles. Os predadores só precisam achar sua comida, enquanto que, os herbívoros não só precisam buscar a comida mas também se defender dos predadores. Eles têm, então, duas responsabilidades. Os humanos também têm essas responsabilidades: buscar comida, abrigo, proteção contra insetos, bactérias e tudo o que for hostil. Além do mais, precisam se proteger deles mesmos, além de se proteger dos demais.

Precisamos aprender a lidar de maneira equánime com o autojulgamento. Se pudermos fazer isso inteligentemente estaremos preparados para viver a vida. Noutras palavras, lidar com equanimidade com todos os problemas centrados na pessoa: o problema da não aceitação, o da inadequação, o do medo, o de se sentir insignificante, a dificuldade em lidar com o desejo de nos tornar diferentes do que somos e outros. Se pudermos lidar com isso tudo de maneira inteligente e tranquila, aceitando a ordem psicológica como ela é, seremos mais felizes e poderemos dizer que há uma direção significativa em nossas vidas.


Tradução de Pedro Kupfer a partir de uma palestra de Swāmijī proferida em março de 2006 em Rishikesh, no Dayānanda Āśram.

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Swāmi Dayānanda Saraswatī (1930-2015) ensinou a sabedoria tradicional do Vedanta por cinco décadas, na Índia e em todo o mundo. Seu sucesso como professor é evidente no sucesso dos seus alunos: mais de 100 deles são agora Swāmis, altamente respeitados como estudiosos e professores.

Dentro da comunidade hindu, ele trabalhou para criar harmonia, fundando o Hindu Dharma Acharya Sabha, onde chefes de diferentes seitas podem se reunir para aprender uns com os outros.

Na comunidade religiosa maior, ele também fez grandes progressos em direção à cooperação, convocando o primeiro Congresso Mundial para a Preservação da Diversidade Religiosa.

No entanto, o trabalho de Swāmi Dayānanda não se limitou à comunidade religiosa. Ele é o fundador e um membro executivo ativo do All India Movement (AIM) for Seva.

Desde 2000, a AIM vem trazendo assistência médica, educação, alimentação e infraestrutura para as pessoas que vivem nas áreas mais remotas da Índia.

Havendo crescido em uma pequena vila rural, ele próprio entendeu os desafios particulares de acessar a ajuda enfrentada por pessoas de fora das cidades. Hoje, o AIM for Seva estima ter ajudado mais de dois milhões de pessoas necessitadas em todo o território indiano.

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Uma resposta para “Identidade e autojulgamento”

  1. Perfeito este texto do Swami Dayananda Saraswati que descobri ser o mestre de Maya Tiwari e também de Gloria Arieira quando li um livro pelo qual me apaixonei :”O caminho da Prática”.
    Em relação ao artigo… muitas vezes as pessoas tem dificuldade de se autojulgar,é mais fácil justificar as suas sombras (culpa,medos,etc.) apontando as sombras do outro sem perceber que reconhecer as próprias sombras é o primeiro passo para a mudança e a evolução no caminho da espiritualidade…
    É fantástico: tudo muda e a vida passa a ter sentido e você passa a ter cada vez mais convicção do seu dharma.

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